Depreciativo NÃO é depressivo!

Não tenho paciência para longas depressões
Se estiver deprimido, vá beber sozinho!
Se estiver depreciativo...

Vem beber comigo


quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Medo Adulto

Ah o medo....
Ah o pavor,
Ah quanto medo,
Ah, por favor
quanto temor....





- Ei, pode deixar a luz acesa, por favor?

- Você não acha que já tá grandinha pra isso?

- Mas é que eu tenho medo do escuro.

- Você precisa encarar seu medo, engolir ele e dormir

- Não é mais fácil deixar a luz acesa?

- Mas um dia você vai precisar encarar, "fácil não faz parte do dicionário dos adultos".

- E o que é ser adulto?

- Hum... um dia você vai entender, poderia dizer que é ser sério, ser forte diante das coisas ou talvez seja ser estável diante das instabilidades e da exclusão, como eu te disse, um dia vai entender.

- realmente parece difícil, difícil e chato.

- Na verdade é...

- Adulto não tem medo?

- Tem sim, e acho até que o medo do adulto é maior.

- Então me diz porque eu iria querer ser adulta algum dia?

- Boa Pergunta....
.
.
.
.
.
.
- Para poder ver você sendo criança.
e morrer de medo de não te ajudar a se tornar adulta....
ah, um dia você vai ser, e entender.
ou não.....

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Ao fã, minto.

O cheiro de carne toma todo quarto,
Cem dias de solidão,
sem limpeza ou luz do sol.

Ha sempre uma medida para o apetite,
Sem dias de solidão,
nunca terá sabido desse limite.

Cento e três dias decorridos,
e de tudo que há sentindo,
e tudo muda de sentido.

A noite vem, com ela...
mais ninguém,
amanhã mais cem amigos,
todos mudos, enfadonhos polidos,
perdidos...

Cem dias, não são cem anos
mas o cheiro da carne se perpetua
a cada outros cem dias, sem vias
e de qualquer forma
"aquele cheiro acre ficaria para sempre em sua memória
vinculado à lembrança de Melquíades..."



segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Um Sonho de Amor

Acordar de um sonho real,
daqueles que não se sabia sonhar.
e encontrar pessoa real, que fez tal sonho acabar.
tira tudo do lugar, deixa só essa agonia.

É a dor de um desengano, do amor que te avassala
e que te tira todo sonho, tão perfeito que criara...

Esse dia sempre chega, vem tomado de pavor,
Raiva, dor e rancor...
Mas o tal sonho era só seu
e ninguém mata um sonhar.

Mesmo assim trépido estou
sonhando cedo o dia que esse dia chegar
sem saber se estarei pronto para te acalmar,
sem saber se estarei perto para te abraçar....

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Gratidão e Saudade

Na imensidão da estrada
sigo minha rota de paz,
carregando a gratidão
e saudade um tanto a mais

Buscando cada espaço
só pensando em resultado
a saudade é muito grande
gratidão mais um bocado

Se assim a vida me leva
deixa lá meu coração
se eu viajo com saudade
eu volto com gratidão

Em hotel de solidão
sem saber qual a verdade
para o céu a gratidão
para a flor minha saudade.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Maria Flor



A alegria de um olhar não se mede com o sorriso,
Como um mergulho consigo, num mar ainda mais infinito,
Enxergar como a vida sozinha apaga seus tortos rabiscos.

Quando o amor então se esvai,
Minha imagem vai turvando,
Ninguém mais me conhece.
Quando mal sabe-se haver alma
Leveza, esperança, beleza.
Brota em frente, risco de calma.

Brota amor, após todo secar,
depois da desesperança
ainda pode germinar...
Ah,  o Amor pode o que quiser
somente em vaso de gente,
somente em vaso de mulher.


Em terremoto de amor partido
em coração empedernido
germina uma flor sadia.
Nasce após um tsunami
Nasce a minha calmaria
Nasce a linda flor, Maria.









quarta-feira, 17 de agosto de 2011

ABC do ócio....

Assim assumo as asneiras,
assinaturas astutas, atitudes auspiciosas
Amores amargos, amizades aéreas
Antigos atos, aterrorizadores...

Basicamente besta, basta o bom
boom de bondades, brotando
Bebendo a boca do beijo
Beliscando a bunda do bebê...

Colocações calculadas,
corretamente colocas em coloridas composições
Como essa, colhida cuidadosamente
Com cautela e calor, causando coisas...

Diversões, desapegos e diálogos
Divergentes das dores,
doenças, dessabores e desgraças,
Descabidas de dias decorridos dantes...

Evolução essencial, esperada
engravidada, embuchada
escolhida com esmero
Erguendo esperanças....

Floreadas facilmente, fala em felicidade
força, fraqueza e falsidade
Feito ferro, forjado faca.
Fere, finca, finda!!!                            Flor

Gloriosa! garbosa!
Gordinha? gostosa?
Grato gasto meus gestos
girando a guria...

Honestamente?
há horas, e hoje,
houveram  hábitos
horrorosos e honrados...

Invariavelmente inverto,
invento e instalo
Intenções e isenções
Intrigas e irrigações...

Jurando juras jeitosas,
jamais judiando,
Jeito juvenil, jeans
Justamente pós julho

Lave levemente as lentes
levante-se, lute
leia letras luzentes,
ludicidades literárias...

Maria, maria...
Mais, mulher ?
mamãe!!!!!!!!!!!!!!!
Maria... Maria

um dom, uma certa Magia....

Carência

Um cão atropelado, a rua engarrafada, pessoas sorrindo em fotografias digitais, cantadas pré-fabricadas, piadas repetidas, olhos cheio d'água, canções de amor.

Tudo isso funciona
o querer é a seta da atenção
a seta da atenção é o que se quer

Expor corrupção, poupar a natureza, guardar o lixo, sorrir ao cumprimento, tocar um instrumento, vestir-se de branco, ouvir atento, abrir as portas, não dormir ao relento

Tudo isso funciona
querendo a seta da atenção
sendo a seta do que se quer

Querendo setas
Temendo setas
Atenção!!!!!!!

Carpinteiro de mim.

Minha aparência está péssima,
Mas me esqueço de como são tais dores
e invariavelmente volto ao espelho.
raspo mais um pouco da madeira de mim
acho que raspei demais, e árvore demora muito pra crescer de novo
antes disso eu rasparei novamente, achando que posso consertar,
como coçar uma ferida sempre antes dela cicatrizar.


Tenho tido um sono ruim ultimamente,
conturbado e repetido sempre
acordo ainda mais cansado.
Não consigo mais descansar, durmo acordado
acordo sonolento
esse é o sonho, fatalmente realizado.

Roendo as unhas mordi o dedo.



terça-feira, 16 de agosto de 2011

Querer Amar

Querer amar....

É compor ao dirigir,
e esquecer quando chegar,
sem gravador,
sem mãos para anotar.

Querer amar...

É ter cigarros na carteira
bem depois de almoçar
com um isqueiro sem gás,
e uma caixa sem palitos para riscar.

Querer amar...

É um parque de diversões
só para você
só com você.

Querer amar...

não é nada,
é só querer.
é não amar...

sábado, 14 de maio de 2011

Corredor da Vitória

    Ele chamou o elevador, mas logo depois de apertar o botão se arrependeu e escolheu as escadas. Começou sua descida rumo à liberdade momentânea que tanto precisava para talvez se encontrar, ou simplesmente para dormir. Caiu na rua em baixo de uma leve chuva e se sentiu orgulhoso por não ter se importado com a reação do porteiro. Escolheu o lado esquerdo e foi-se, variando entre o asfalto e a calçada, sentindo os pingos convergirem todos em sua direção, esperando apenas a próxima esquina que viria.

    Seu peito cortava as gotas que caiam, na verdade quando saiu do Corredor da Vitória ainda estava quase seco, protegido pelas árvores, mas entrou de fato em campo aberto ao chegar no Campo Grande, entrou pelas taciturnas ruas do Canela sem pensar se dobraria ou não a esquina que viesse, sem perceber se estava passando duas vezes no mesmo lugar, sem se preocupar com nada. Apesar de conhecer bem aqueles prédios tudo era turvo à sua volta, os sons dos raros carros que transitavam não eram tão altos como os de seus passos a espalhar a água do chão. Conseguiu realmente chegar à meditação ao misturar suor e chuva em seu corpo e apagar tudo da sua mente, não fazia a menor noção de quanto tempo já estava a correr, nem a que velocidade, percebeu que aquilo era o não-pensar de que tanto falavam os orientais, e como eles estavam certos, aquilo sim era viver! Mas ao se conscientizar disso desfez-se do desfeito e se tocou que voltou a pensar.

   Olhou à sua volta para saber onde estava e não reconheceu, era uma longa ladeira, talvez da Graça, talvez da Federação, tentou refazer a rota em sua mente, mas foi inútil, então simplesmente escolheu subir a ladeira, voltar de onde vinha e caminhar, agora se sentiu realmente cansado. Continuou sem reconhecer nada, não sabia realmente quanto tempo levara a correr e aquilo começou a te preocupar, o medo voltou a correr mais forte em seu corpo do que ele pelas ruas, era grande o silêncio, a escuridão e a chuva, e desses três fenômenos assustadores começou a pensar que o último poderia estar a seu favor, era reduzida a chance de outra pessoa também estar vagando como ele com tanta água caindo. Procurou fazer silêncio para escutar algum movimento e se assustou porque só percebeu um carro que vinha quando o mesmo já estava passando por ele. Acho que não sou adaptado para essa vida de riscos, pensava ele enquanto começava a lembrar dos motivos de seu rompante noctívago, talvez se adaptar aos riscos seja um deles, encarar seus medos também, e é claro, ficar veloz para quando a morte chegar.

   Sorriu ao pensar nisso tudo, na sua dúvida sobre os castigos divinos e da funcionalidade de um confessionário, mas o mais engraçado era imaginar a morte vindo em seu capuz preto atrás de um velocista, na verdade o objetivo não era fujir em definitivo da morte, mas correr por tempo suficiente para pedir o perdão de Deus, correr do diabo e abraçar o lado bom da força.

   Voltou de seus pensamentos quando ouviu o som de um pé em uma poça logo atrás dele, e ao virar-se perdeu todo o sangue quente de seu corpo, era ela! A Morte!

   A Morte, em sua capa preta botas de borracha, cigarro em uma mão e um gancho na outra. Vinha a passos largos em sua direção e estava perto demais para um Creio em Deus Pai ou uma Salve Rainha, andando de costas só conseguiu proferir um: -Puta merda! Minha Nossa Senhora! quando tropeçou e caiu batendo com a cabeça no meio fio.

  Acordou de repente, olhando o céu cheio de estrelas, limpo como num dia de inverno do sertão. Estava deitado de costas em cima de uma pedra, em alguma floresta, não fazia idéia de quanto tempo esteve desacordado, minutos, horas, dias! 

  A sua volta estavam seis pessoas, todas encapuzadas de forma que identificar os rostos era impossível, além do mais estava muito escuro, não havia lua no céu e além das estrelas havia uma fraca fonte de luz e calor em baixo da pedra em que estava, que Vicente imaginou ser algum tipo de fogareiro. A consciência daquilo tudo tomou seu corpo de pavor, um pavor absurdo, adequado para a situação. Os encapuzados estavam de cabeça baixa, em silêncio, vestidos como a morte e segurando facas em suas mãos. Vicente não conseguia mexer seu corpo, somente o pescoço rodando e se aterrorizando, começou a pensar se estava morto ou se seria morto, quando o primeiro encapuzado se aproximou sussurrando algo indecifrável, se abaixou ao seu lado e depois de alguns segundos se levantou com a faca em brasa.

  Vicente tentou gritar inutilmente, tentou se debater com o mesmo insucesso,  só podia sentir o ardor da lâmina em brasa rasgando a pele nas costas de seu pé, a agonia não lhe permitia olhar, não podia gritar nem perguntar nada, era como se estivesse em algum tipo de sedação que o mantinha consciente e sensível a dor, logo que o primeiro terminou veio o segundo, e seguindo o mesmo ritual abriu rágades em seu outro pé, depois vieram as costas das mãos, quando faltavam ainda mais dois desgraçados sádicos anjos do apocalipse para ferrá-lo ele percebeu que estavam escrevendo em sua pele, algo também incompreensível, talvez pelo inchaço e sangue torrado no local. O quinto elemento veio por cima de sua cabeça e segurando sua cabeça pelos dois lados, fechando suas orelhas o obrigou a ver o sexo que sua frente, com uma enorme lâmina, quase um machado, um instrumento que os açougueiros usam para cortar pedaços mas firmes de carne, pedaços com ossos pelo meio, ela abriu suas pernas e olhou fixamente para o seu órgão genital. Vicente logo percebeu que nada seria escrito ali daquela vez, e mesmo sem movimentos sentiu o gosto salgado da enxurrada de lágrimas que corriam pelo seu rosto, pensou novamente na virgindade  de Camila, no sexo descompromissado com tantas mulheres e meninas em sua vida, mas pensou principalmente no "puta merda" expressado antes de sua morte, aquilo com certeza era o inferno, ou pior, o princípio do inferno.

   Começou só então a pensar nas orações que sabia, fazendo promessas pela oportunidade de refazer sua vida, de forma mais digna e honrada, fez votos de todos os tipos, desde pobreza, celibato, agnosticismo, etc. Mas nada disso pôde evitar a descida da lâmina, nem ele de olhar, já que seus olhos foram forçadamente pelo indivíduo que segurava sua cabeça, percebeu pelos longos cabelos negros que seu algoz era uma mulher, só podia ser mesmo, uma punição claramente à devassidão em que vivera. 

   Mas como eu ia dizendo, a lâmina desceu, desceu diretamente no membro cobiçado por algumas mulheres, desdenhado por outras, mas sempre tão esmerado pelo proprietário. Foi então no momento do choque que ele sentiu contrair todas suas vísceras, dobrar os joelhos e soltar um alto grito de pavor, e despertou novamente, outra vez ao lado de uma morte encapuzada, que te segurava nos braços e deu um pulo pra trás parecendo assustada com o grito. 

  "Me Deus, será que passarei a eternidade acordando e acordando em rituais satânicos de flagelação física e moral de minha pessoa?" era o que ele pensava o aperceber que estava recostado na calçada da rua, na mesma noite chuvosa em que correra, no mesmo meio-fio em que caíra, ao lado da mesma morte perseguidora, que era na verdade um homem negro, em sua capa de chuva, guarda-chuva e uma mão e a outra vazia por ter jogado o cigarro fora para socorrer um estranho desmaiado na rua.

  O jovem conseguiu se levantar sozinho, percebeu que estava com seu único pertence, a chave de casa, falou para o homem que estava bem, só havia se assustado, o homem lhe falou que fazia a segurança do local, e aconselhou-o a se retirar, era tarde e perigoso ficar àquele horário na rua. 

  Vicente ainda meio tonto terminou de subir a ladeira e percebeu estar na Graça, procurou o caminho de volta pelo viaduto sobre o Vale do Canela, seu caminho era longo, sua cabeça atordoada, suas roupas encharcadas, suas pernas cansadas, mas o que mais doía eram as costas, das mãos e dos pés...

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Depois dos Bares

    Ainda naquela noite ele caminhou até o carro observando a cidade vazia com poças por todo chão, sentiu uma vontade enorme de caminhar por horas pela rua, na verdade a praia estava perto e poderia até ver o sol nascer, se imaginou tomando um banho de mar naquela manhã fria, pensou nas idéias que poderia ter, ou na limpeza que talvez ocorresse em sua mente, seria uma cena poética certamente, mas ao chegar junto ao carro acovardou-se e desistiu.
    O guardador não estava mais por lá, como esperado pelo horário, mas ele pensou na possibilidade do mesmo estar escondido e entrou rápido no carro tentando evitar o corriqueito conflito psicológico por conta de cinco reais. Enquanto arrancava apressado lamentou por frustrar seus planos da caminhada solitária, na verdade tinha mesmo muito medo de andar sozinho pela madrugada naquela cidade, e sabia que a beleza dessa caminhada seria justamente a coragem e a possibilidade dos riscos.
    Decepcionado vagou com o carro por alguns minutos, assim era mais seguro, menos interessante, porém bem mais seguro. No momento seguinte achou muito sem sentido ficar dando voltas na cidade vazia, mesmo porque ninguém veria seu culto à solidão e aquilo ainda era importante para ele, por isso mesmo continuava sentindo-se um homem vazio tentando encontrar alguma profundidade em seu eu, alguma coisa de interessante além de sua enorme beleza, algum contraponto a sua covardia.
    Decidiu voltar para a casa de seus pais, acendeu logo um cigarro, pois eles não sabiam que seu filho fumava.
    Cantarolou algumas músicas e ficou feliz por esquecer a misteriosa fugitiva, o que havia de errado em seu nome? De qualquer forma ficou feliz simplesmente por não ter ficado nas ruas cultuando a tristeza da dúvida e da rejeição, pensou ter achado a profundidade na simplicidade de seus sentimentos.

    Entrando em casa vieram frases que rabiscou num papel:

       "Os homens andam procurando respostas inúteis, para perguntas fúteis.
        Os homens vivem se escondendo em sorrisos 
        Os homens vivem querendo corrigir erros que vão cometer
        Os homens vivem tristes esperando que algo venha acontecer,
        Os homens pulam alegres por um minuto de poder esquecer
        Homens apanham por não querer,
        Homens são obrigados a sorrir, mesmo sem beber"

    Abriu uma garrafa de vinho e se sentou para trabalhar nas palavras, continuava acreditando que deveria ser escritor, alguma coisa viria, aquilo poderia ser grande! Entretanto nada mais apareceu em sua cabeça e foi dormir mais uma vez triste, porém bêbado.

    Acordou com a ressaca e a culpa de não ter nada de urgente pra fazer. Carregou essa culpa durante todo um dia inútil, pensando na maré de azar que vinha te acompanhando, tentando entender o motivo daquela falta de ânimo, na sucessão de fracassos e rejeições. Seria ele, Vicente, um total incompetente em todas as áreas de sua vida? Dormiu outra noite sem respostas, sem perspectivas, sem estudar, sem escrever, sem trabalhar, sem se apaixonar, sem sorrir, sem chorar e sem trocar grandes palavras com ninguém.

    Acordou durante a noite com um pedaço de vida. Chorou por se sentir cruel, pensou na virgindade de Camila que ele findou no final do ano passado, enchendo ela de promessas e da visão de seu grande e belo corpo forte. Pensou no sofrimento de Laura que se apaixonara por ele, mas fora desprezada, tida como ignorante e fútil por ele, que sabia distinguir as composições de Mozart das de Beethoven, que já leu um livro de Tolstoi e dois de Jorge Amado, enquanto ela assistia o big brother.

   Estaria sendo castigado por Deus? Ele cobrava por todas as pessoas que o Vicente subestimara nos últimos cinco anos? Estaria o Vicente destinado ao sofrimento em vida? e depois dela?

    Na manhã seguinte acordou mudado, desprezando os pensamentos confusos e inseguros, determinado a regar seu jardim, se encher de cultura e ser realmente uma pessoa interessante. Deixou de culpar Deus pelas coisas, afinal de contas intelectual e crente eram palavras antagônicas em seu limitado ponto de vista. Trocou de roupa, alimentou os peixes e foi para rua, parou numa livraria, folheou os autores recomendados por conhecidos que ele julgava interessante e se identificou num trecho de Espere a Primavera Bandini.

“Arturo Bandini estava bastante seguro de que não iria para o inferno quando morresse. A maneira de ir para o inferno era cometer um pecado mortal. Ele havia cometido muitos, acreditava, mas o confessionário o salvara. A confissão sempre chegava a tempo… isto é, antes de morrer. E batia na madeira sempre que pensava naquilo – sempre chegaria a tempo… antes de morrer. Por isso Arturo estava bastante seguro de que não iria para o inferno quando morresse. Por duas razões.. O confessionário e o fato de que era um corredor veloz.”


    Ele comprou o romance de John Fante no cartão de crédito, voltou para casa e ficou sem saco de ler mais, dormiu, acordou no escuro, ainda eram uma e três da manhã, todos dormiam, ele andou pela casa, comeu um pedaço de pizza fria, bebeu um resto de coca-cola sem gás, fumou um cigarro, terminou os dois goles da coca que havia guardado para depois do cigarro, passou algum tempo olhando a chuva rala na janela, as poças que se formavam no chão, pensou na vida, na morte, em Deus, nas virgens (Maria e Camila), nas mães (Maria e a sem nome do bar de duas noites atrás), em Arturo, nos peixes... 
Em quase tudo a sua volta.

Então calçou um tênis e foi para a rua correr.
   


sábado, 12 de março de 2011

Mais um bla bla bla romântico...

- Você é um homem romântico?

Ele quase abriu os lábios num quase sorriso e depois de quase um minuto disse:

- Você quer mesmo que eu responda isso?

- Não precisa mais, acho também que não precisa mais vir aqui me ver.

Nova demora para responder

- Sabe, as vezes eu tenho saudade do tempo que ouvia Djavan cantando Oceano e lembrava de alguém, essa saudade é o mais romântico que tenho em mim.

- Pra mim é pouco.

- Não quero que seja o nada pra você, talvez minha falta de romantismo seja por falta de estímulo, mas se quer saber também não quero alguém que estimule meu romantismo nem que queira isso de mim, acho que quero uma segurança atrás de um amor complicado.

- Olha, falando numa boa, vejo que você tenta ser um cara complicado para justificar suas fraquezas, sua falta de coragem para assumir as coisas, assumir sua frieza, sua crueldade e racionalidade egoísta.

- Por acaso eu sendo complicado deixo de ser fraco, covarde, frio, cruel ou egoísta pra você?

- Não!

- Então por que acha que essa é uma estratégia? por que acha que sou tão burro assim? Você não é nem será a primeira mulher que me concede essas qualidades.

- Você não sabe o que quer, e isso é a pior qualidade que um homem pode ter.

Ouvindo isso ele pensou nas respostas que poderia dar:
- Quero me sentir um pouco burro e romântico, e isso se torna difícil devido às minhas racionalizações e questionamentos, além das freqüentes mudanças de humor e prioridades que tenho tido ultimamente, portanto acho que quando esse romantismo acontecer com certeza será algo intenso. Quero alguém que me dê certezas mesmo diante de tantas opções do mundo e acabe com as angústias das escolhas, alguém que saiba mais minhas prioridades que eu mesmo, alguém com quem eu tenha vontade de ir pra longe só pra poder voltar, alguém que me faça sorrir e me dê a segurança de ser feliz sem nem me questionar como nem o porque disso. Isso é o que eu quero.

Terminando com um longo abraço e um beijo sutil e carinhoso, com suas mãos percorrendo o pescoço dela e descendo pelos ombros trazendo a alça de sua blusa para despi-la, olhar seus olhos apaixonados mais uma vez sorrindo alagados de alegria. Até que ele partisse e sua demora para voltar trouxesse de volta a angústia ao coração dela, demora que ele nem percebera até chegar e ouvir toda aquela insegurança novamente.

Então ele optou por responder a verdade:

- Pior que um homem que não sabe o que quer, é um que também não sabe o que não quer.

Apanhou a chave do carro em cima da mesa e partiu deixando por lá um livro chato de Beauvoir.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Mangueira sem quintal

Tenho visto o sol dormir
assistido ele acordar
em meus braços recolhido
admiro seu cochilo
em teus olhos o raiar

Hoje deito no escuro,
sem linha de horizonte
pros meus dedos correr.
Não vai ter amanhecer.

Hoje até o amor se esconde.

Meus sorrisos são estreitos
tais meus olhos cor de terra
faltam dentes e gengiva
falta o rosa lá no céu
falta o verde cá no mar

Eu não quero mais escola,
Eu não quero mais sambar.
Eu não quero sol nascer,
nem quero rio  correr
deixo os pássaros por lá,
só preciso TE encontrar.



Acontece que não me acho sem errar

domingo, 6 de fevereiro de 2011

RÃmor

Amor virado e revirado
Torto, torcido, retorcido
Troca de borda, transborda
Pinga no meu
Pinga no pé
Pinga no mel
Olha menina!
Olha menina!
Vãos e vem
Vêm em volta
De frente pra trás
Roda, pula, gira e cai.
Semanas passadas
Enquanto fincava
Bateu retirada
Legião sem bandeira
Do império do Amor
Virado, torcido e avesso
No mesmo lado
de outro jeito
Romano império
Dentro de nós
Revira-me ver
Passando a sofrer
Tu triste a sorrir,
Amando não ver.
Fortaleza feição
Feita com pedras,
de tios e son(s)
brotados do Amor,
Revertido aqui e
acolá do.
Amor retorcido
Só vai entender,
quem tem senso de riso.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Brincando com palavras...

"Beijaria um bode,
 por uma cerveja."
- Vai atrás de um bar, bicha!
.
.
.
.
.
.
Saudade dela.
É saudá-la
e saldá-la.
.
.
.
.
.
Olho-me no rio,
molho-me,
e rio.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

3 x 3

- Classificar a vida em escalas de sociedade!?
   Podem me classificar por isso,
   mas prefiro as escalas de saciedade
.
.
.
Escurecer meu pulmão atrás desse lento caminhão,
ou arriscar passar no escuro?
Acendo outro cigarro para clarear a decisão.
.
.
.
Três coisas que eu preciso para ser um escritor:

1-Papel,
2-Lápis e
3-Um emprego para pagar e apagar o resto.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Chão Aberto

A angústia

Algo me revira por inteiro, sopra minha alma. Mesmo sem acreditar nela, nesta hora me apego a tudo que posso, basta ouvir seu nome, coisas ligadas a ela.
Como é possível não conseguir desapegar de algo que sempre te fez tão mal?
As maiores fraquezas emergem, os piores sentimentos.
Insegurança, mêdo, dor, raiva, e a grande decepção por si mesmo.
Todas as conquistas e qualidades se tornam nulas, insignificantes diante dela.

A perda.

A perdi esse ano, venho sem conseguir juntar minhas forças para lutar, luta que perdi antes mesmo de entrar. Primeiro ela me tirou meu pai, o que me fez admirar ainda mais minha mãe. Hoje ela é o único motivo que enfraquece essa admiração, que de nada me serve neste delicado tema. Matou três pobres homens que lá viveram, num intervalo de cinco anos, três almas se foram e não matou a fome daquele chão aberto.
Alma, a minha definha em seus pensamentos e só fujindo consigo sobreviver.
Como conseguirei viver a fugir do meu maior tormento? se ele não foge de mim?
É como um passado assustador, que te aperta de tempos em tempos, que sobe para respirar e tira seu sangue, seu ar, seu controle totalmente. Não consigo descrever com metáforas, poemas nem nada de mais humano que eu venha a ter em mim. Simplesmente desfaço dos meus próprios conceitos e de qualquer resquício de sanidade, não penso.
Tremo, me reviro em nós físicos!

A maldição

Começo a crer que tenho incapacidade de solucionar meus problemas, começo a crer em espíritos mais fortes que todas as correntes de pensamento, chego a achar que meu problema é sim maior que o dos outros, mesmo não sendo.
Como pode ser coincidência?
Como pode haver um lugar tão "almadiçoado" para alguém?
Amaldiçoado define bem, não sei sua etimologia, mas deve ser algo do tipo que se diz mal, que diz o mal ou que traz o mal. Escrevi isso errado "almadiçoado" pois soa exatamente como me sinto, com minha alma ou espírito, ou meu corpo inteiro incluindo partes fora dele suando em bicas.
Não acredito em maldições, mas hoje soube da morte do quarto inquilino de seu chão.
E a forma que me sinto morrer ao saber disso, eu não consigo explicar nem expressar, e tentando isso delongo tantos minhas linhas.

O escritor

Pela primeira vez escrevo algo tão sobre mim por aqui, algo tão real.
por isso o desabafo não pode parar, senão ele não volta.
Queria ser escritor, queria mesmo. Comecei juntando as letras, acho que nisso sou igual a muitos.
só nisso. tentei viver de forma que me inspirasse. Lugares e pessoas, quanto mais ricos e diferentes melhores, mas de nada isso adiantou. Li pouquíssimo, mas esse pouco só me piora, tenho excelente memória, a única coisa que ajuda. Consigo ler um texto que ache genial e dividi-lo em dez porcarias, cada uma fazendo menção há um trecho da genialidade alheia. Gostaria de poder ler dez coisas quaisquer e poder fazer uma genialidade.
Minha inspiração é igual a chuveiro aquecido pelo calor do sol, funciona bem quando você menos precisa dele. Então escrevo sem inspiração, qualquer porcaria que seja para esquecer da maldição.
"O maior escritor da atualidade", me disseram que eu me julguei isso.
Devo ter dito mesmo, bêbado ou não, não me lembro. O fato é que estava sendo sarcástico. Com certeza, me lamento por não entenderem sempre meus sarcasmo, mas isso só mostra minha insegurança.
Não faço idéia de quem seja o maior escritor da atualidade, mas acredito que ele deva ser o maior de todos os tempos. Não só pelas ferramentas literárias espalhadas mas pelo crescimento na estatura média da população mundial, além do mais teoricamente quanto mais escritores existem, maior a chance de escolhermos algo muito bom.
A primeira pior teoria do mundo, a teoria mais furada que já vi, realmente mais opções não significam melhores escolhas, a não ser no campo do melhoramento animal, coisas parâmetros quantitativos.
Blogs, livros baratos, e-books, TOPA, e pessoas mais altas é a grande fórmula de aumentar-mos as chances dos grandes escritores.
Todos são escritores, médicos, loucos, fotógrafos e tocam pandeiro.
Isso já me irritou, por que a grande, grande maciça maioria são péssimos.
Assim como eu sou, somos quase todos: Porcarias de médicos, seres fingindo ser loucos para serem diferentes, querendo acompanhar os amigos no pandeiro para serem divertidos e interessantes, querendo tirar fotos bonitas e "artísticas" de paisagens e pessoas pobres, mas principalmente juntando letras engraçadinhas em trocadilhos previsíveis.
Todos fazendo suas próprias porcarias.
Admiro quem vive dessas coisas, quem consegue renda, quem conseguem agradar e ser melhor em coisas teoricamente tão fáceis.
Olha a segunda pior teoria do mundo aí gente!!!! Exatamente pela facilidade que se tem hoje, por tudo que falei de blogs, e-books e falsa alfabetização, pelo costume de receitar remédios a amigos e parentes, pela facilidade de usar roupas extravagantes, de comprar uma máquina digital, de ter amigos músicos e batucar na Bahia (Culpa de Saul que disse que todo menino do pelô sabe tocar tambor).
Desse ponto de vista sou melhor médico que todas as outras coisas, afinal ainda me pagam por umas receitas aqui e ali (não para pessoas), apesar deu saber que me pagam muito mais pela simpatia e disposição.

O Sonho

Queria poder juntar dez textos em um, depois fazer deste texto um parágrafo, deste parágrafo uma linha. Uma linha genial que remeta a dez porcarias.
Queria isso ouvindo Gal gritar nos meus ouvidos:
"No fundo do peito esse fruto, apodrecendo a cada dentada!"
Na verdade, escrevi isso para esquecer o motivo principal de tudo, mais uma vez, escrevo sempre para esquecer disso. Esquecer dela.
E funciona, sempre funciona. Até o texto acabar, depois volta.
Queria tirar do peito esse fruto podre, queria me livrar da maldição.
Sem perdê-la, sem morrer.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Nossos Corpos

Cabelos,
longos e curtos,
Toques e cheiros,
seus, cal, tons
os meus camelos
teus ondas de céu
meus sob chapéu.

Rostos,
olhos pequenos
estreitos travam
línguas e dentes
tão infalíveis
quão grossos lábios
imprescindíveis

Braços, peitos,
em pele ou pêlos,
seus grandes fartos
quase padeço.
em rock ou Bossa
dos meus esqueço
são nossos, nossa!

Caminho às pernas
suas finas tenras
minhas grossas tortas
às unhas mortas
tais de um mulambo
escolhe as cores
diz como as chamo.

Se brilha ou fosco
ao te encontrar
se verde ou cinza
ao me afastar
quebrando aos pés
comendo às mãos
nem sempre sãos.

Despedir a cada olhar
pensar se vou voltar
sem nem despir para amar
sem nem partir ao acordar
da preguiça do adeus
da ida sem vinda
onde estará mais linda!

sábado, 15 de janeiro de 2011

Silêncio

.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.

.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.


- cada palavra que me aparece parece cheia demais pra existir.
- ufa! quebrou essa gélida dor
- realmente, muito cheias
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Eduardo Cold

Saí com uma garota há um tempo atrás,
Amanda, garota gentil.
Ela me contava sobre seu ex-namorado,
Eduardo Cold.

Saí com Julieta Rosa também
por um tempo
dentre as conversas
havia comum passado
Eduardo Cold

Conheci hoje Rebeca
de pé num Jazz
Eis que aparece
Eduardo Cold

Cumprimentos e risos,
Conversas privadas
Fui ao banheiro e a deixei com,
Eduardo Cold

Na volta ela estava só
veio ao meu lado
ricas conversas
e de novo até o banheiro encontrei
Eduardo Cold

Ele não me conhecia
e eu sabia tanto dele
achei injusto, mas é a vida
ele chegou educado:
"boa noite cara, você é namorado da Rebeca né?"
pobre Eduardo Cold

Pensei em tudo que sabia
humor, carinho e tamanho
Pensei na pergunta interessada e
por fim disse:
"Que nada filho, somos velhos amigos, só amigos"
até mais Eduardo Cold

Voltei até Rebeca
anotei seu telefone e me despedi
não seria justo com ele,
não seria justo com ela,
inverter a ordem natural das coisas
todas merecem evoluir na vida
aproveite Eduardo Cold


te ligo em algumas semanas...

Corpo, hum... ano, faminto

O corpo do homem é dividido
em três partes,
cabeça, barriga e membro.


Tudo o que você precisa,
alimentar
O resto só existe para buscar,
alimento


Comida, bebida, cultura ou mulher


Tudo se baseia no costume,
condicionamento
se come porcaria está
condicionado


Comida, bebida, mulher ou cultura


Se prova algo melhor
contente
Fica difícil voltar atrás
contentar


Comida, mulher, cultura ou bebida


Difícil priorizar um órgão
equilátero
Mesmo com o alimento
escaleno


Mulher, cultura, bebida ou comida


Nem toda cabeça reclama
o membro sempre clama
não aguenta a barriga chama
FOME!


Cultura, mulher, bebida e COMIDA


Reina barriga
sem ela, cabeça ou membro
definham

Reina cabeça
sem ela, membro ou barriga
mesquinhas

Reina membro
sem ele, barriga ou cabeça
sozinhos


Comida, bebida, cultura e MULHER


bebida é comida, cultura é mulher
mulher é bebida, comida é cultura
cultura é bebida, mulher é comida.


Felizes coincidências
Tristes prioridades
Fome voraz.



Poucos membros famintos
Muitas barrigas famintas
Incontáveis cabeças famintas