Depreciativo NÃO é depressivo!

Não tenho paciência para longas depressões
Se estiver deprimido, vá beber sozinho!
Se estiver depreciativo...

Vem beber comigo


quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Diário de Roberto Vilar... (parte 3)


         Esta era um sexta-feira comum e a mesa do jantar já estava pronta, a comida do final de semana já estava congelada e eu ouvia a água cair do chuveiro há bastante tempo. Tentei convencê-la a ficar oferecendo mais dinheiro do que pagaria para um final de semana normal (e olha que eu já pagava o dobro de qualquer outro lugar), mas não adiantou, ela não iria ficar. Eu não aceitava ninguém além da Rita em minha casa e todas suas folgas me eram um tormento, já vi que este final de semana seria dos mais devastadores, o estoque de bebida e cigarros era baixo e ela estava saindo com trajes e sorrisos típicos de um romance neonato.
         Ela passou a semana inteira cantarolando baixinho, enquanto eu me encontrava bêbado na poltrona desde a segunda-feira, comprei uma coleção de filmes do Kubrick e me embriagava para assisti-los. Rasguei alguns poemas que tentei escrever e cancelei todos os médicos, tinha sido uma semana interminável o final dela se apresentava ainda pior.
        É impressionante como podemos aguentar a monotonia da semana inteira nos contentando com um filme qualquer, um livro mal escrito ou a maravilhosa viola do Elomar para chamar o sono em uma noite solitária, mas quando se trata de finais de semana a coisa é bem diferente, os filmes ficam muito mais monótonos, os livros impossíveis de reter concentração e das cantigas lamuriosas do Elomar melhor nem falar. Cada minuto na cama são verdadeiros tratados de possibilidades sociais e sexuais perdidos. Como seria maravilhosa minha vida se em metade das noites de sábado que eu tivesse saído durante toda minha vida acontecessem apenas um terço das coisas que eu imagino que acontecem com as outras pessoas que estão nas ruas durante as noites de sábado que passo em casa, principalmente quando seu objeto maior de desejo está entre essas pessoas na noite.
          O som do chuveiro logo foi substituído por uma conversa ao telefone, algo sobre um samba em um bar do pelourinho, entre a conversa percebi que de nada adiantaria aumentar minha oferta, não era contra o samba que eu concorria, mas contra um sambista. Mulheres são tão previsíveis, basta qualquer palanque, palco de show, de sala de aula ou qualquer ocupação romântica e artística que dispensa os primeiros e mais fortes muros da conquista, claro a carência de algumas também faz isso rapidamente. Todas mulheres parecem procurar ser excessões, ter exclusividade, mas não basta ser a única para quem não tem muitas opções, elas querem ser a única de quem vive rodeado por escolhas, é claro que por isso se juntam em grupos para admirar os mesmos tipos e assim mostrarem que foram escolhidas e são melhores que as outras mulheres pertencentes do grupo, talvez por isso eu esteja tentando escrever aqueles poemas que rasguei, quem sabe eu sendo poeta consiga ter meu próprio grupo de admiradoras.
         Me lembrei dos tempos de colégio em Itabuna, não precisava ocupações românticas, nem dinheiro, bastava astúcia e não perdia nenhuma Papa-Jaca da minha idade, porém antes de falar de Itabuna passei por outras estradas depois que saí da casa de tia Raimunda.

Um comentário: