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Vem beber comigo


sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Diário de Roberto Vilar...



Diante dos poucos prazeres que me restam certamente esse é o maior deles, um bom whisky, as palavras do Belchior e o vazio da madrugada à minha frente. Diante desta contemplação do nada nasce uma boa dor, uma boa e saudável dor, enfim a única coisa que me lembra do fato de ainda estar vivo, e portanto é assim o meu maior bem. Talvez fossem as lembranças, mas sempre que começam essas tais lembranças me volta o resto da vida, e começo a ficar enojado.
Por ironia acho que até a formação de minha memória começa de uma forma um pouco trágica, não sofro nem um pouco com isso mas não consigo me lembrar de nada antes da morte de minha mãe, eu devia ter uns seis anos e, pensando nisso percebo que até hoje não sei bem o motivo de sua morte. Meu pai, não comentava a respeito e nunca levou a conversa além de cinco palavras “ela era uma grande mulher”, isso hoje me soa um tanto forçado, talvez para que eu carregasse uma boa imagem, mesmo que não fosse uma imagem real, pouco importa.
Meu pai, Seu Francisco, trabalhava como caminhoneiro e portanto passava muito pouco tempo em casa, de maneira que não tenho muitas lembranças dele daquela época mas com certeza não tínhamos uma intimidade de pai e filho. Eu Não tinha irmãos e morava de aluguel em Matina, um distrito de um município já pequeno no sertão da Bahia chamado Igaporã, como já disse não lembro muito bem de lá pois assim que mainha morreu fui morar na casa de uma tia
Desta época eu já me lembro bem, a morada na casa de tia Raimunda, ou Mundinha, como meu pai a chamava, bem poderia ser Imundinha, tenho certeza que nos tempos de criaça ele usou esse trocadilho, era uma velha branquela, magra, com a pele castigada pelo sol e com muito espaço entre seus poucos dentes. Tinhamos uma vida simples numa roça, morei com ela alguns anos. Ela mesma nos ensinava a ler pela tarde, a mim e aos seus filhos, isso quando sobrava tempo ou paciência. Durante a manhã ajudava um pouco com o gado ou em alguma colheita esporádica, já que a maioria dos outros trabalhos de capinagem ou cerca eram pesados para mim e não me cobravam, e portanto sempre sobrava tempo para brincadeiras, para correr pelo mato, explorar tudo por ali.
Lembro também dos deliciosos bolos fritos em forma de rosca que ela fazia, geralmente no final da tarde, para que meu tio comesse com seu café preto, que depois vim a descobrir não ser tão preto, pela pouca quantidade de pó e pela grande quantidade de açúcar.
Os dois filhos homens, Leandro e Laerton, meus primos, eram maiores e tinham mais responsabilidades, mas não era por isso que tentavam brigar comigo com frequência, as vezes um a um, as vezes os dois, quando era possível eu escapava, mas muitas vezes tive que enfrentá-los, levara boas surras sempre, mas a tia Raimunda me defendia e acabava por bater neles depois, adorava ouvi-los gritar por piedade enquanto a velha fazia justiça.
Tudo era motivo de gozação comigo, nada ali era meu e portanto qualquer coisa que estivesse comigo ou por perto era motivo para ser chamado de ladrão e perseguido. A briga mais feia foi quando apareceu uma preguiça por lá, eu a achei e estava observando, sem saber que minha admiração lhe custaria a vida, me perguntaram o que eu estava fazendo, tentei disfarçar mas eles a descobriram no umbuzeiro, chamaram os cães para pegá-la, pois até pra isso eram frouxos! Não podia deixá-los fazerem aquilo e intervi, puxei um pedaço de pau e lutei, quatro vira-latas contra nós dois, eu e a preguiça, esta verdade ainda me conforta um pouco, me conto tantas vezes que até me confunde, de certo que a vergonha me escapa sempre que ela aparece. A covardia deles para com o animal não me parece compreensível a minha talvez um pouco mais, mesmo que eu nunca quisesse admitir.

12 comentários:

  1. O vazio da madrugada,
    um café com blues e uma pitada
    de uma guitarra bem rasgada

    ou mesmo uma voz rouca afinada
    a cantar:

    "eu quero é que esse canto torto feito faca corte a carne de vocês"

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  2. Ivanzinho, que escrita meu filho!

    Show de bola, muito show! quero a continuação.

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  3. ja vi algumas coisas que não gostei, diante duas vezes no primeiro parágrafo e o final tá difícil de compreender
    na segunda parte explico melhor
    que já está aí

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  4. Gabi, acho que a intenção do blog é colocar aquilo que se pensa, que se sente, que se quer. Se novo ou velho... pouco importa.

    Gosto desse Ivan, do velho, e do novo tb.

    Falso poeta ou não... isso aqui tá muito bão.

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  5. Quero que as variações venham ou não, "depende da hora da cor e do cheiro", o sentimento acho que não seria carência, mas VAIDADE, assumo meu pecado e o cultivo, escrevo aqui para isso e se alguém quiser publicar pra eu ganhar dinheiro aceito também, se ninguém quiser comprar, tanto faz também sei vender remédio e ser ginecologista de vaca...

    Obrigado pelas críticas e assim como meus textos passarão por filtros sempre

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  6. A questão é: manter os textos em gavetas para que????

    Compartilhar faz parte de nossa natureza, vivemos em bandos de amigos, famílias e outros mais.
    se tem algum talento pode mostrar que é capaz.

    Não que eu crie obras primas mas sinceramente, espero que não sejam passivos ao que eu escrever. E se ficar ruim, vou tenatar melhorar muito mais para agradar a mim.

    Realmente não busco notoriedade, identificação me é moeda muito mais apreciada, novas idéias de troco. Posso até fazer um escambo.

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  7. Vaidade sempre me pertenceu e pertencerá, assim como a soberba e outros ingredientes mais nobres.
    Nas gavetas as críticas são só minhas e as evoluções restritas.
    Apesar de saber da parcialidade existente nos comentários usarei sempre algo em mim...
    mas continuo achando minhas críticas melhores para meu próprio propósito e objetivo
    Virão textos, invariavelmente parecidos comigo, invariavelmente piegas, melodramáticos e presunçosos, vezes apaixonados, vezes ranzinzas, vezes engraçado, vezes satíricos, mas sempre eus. Que sejam novos ou velhos eus são só variações sobre o mesmo tema, são só poucas experiências avaliadas ou abstratas por um ponto de vista momentâneo ou fictício
    Não me castrarei nem inflarei com as coisas aqui do meu ócio
    Não mais, talvez hoje mesmo venham mais palavras
    talvez não
    Mais uma vez obrigado e divirtam-se, enquanto o que tiver aqui interessar
    Nunca achei meus problemas maiores que os dois outros, mas são dos quais eu mais entendo e portanto posso falar e são sabidamente meus e portanto os que eu posso resolver

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  8. Há algo de melancólico e perverso na sua escrita e isso me agrada. tenho certeza que causarias enjôos em João Cabral de Melo Neto por ir de encontro a escrita concreta e anti-subjetiva dele, mas ainda assim eu o aplaudo, pois escrever sobre o externo é "fácil", escrever sobre o subjetivo é complexo, mas poetizar o cotidiano com pinceladas intimistas é raro. É Ivan...

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  9. no mais, os textos foram feitos para serem compartilhados. a partir do momento em que o autor o termina ele deixa de ser seu e passa a ser dos leitores provocando diversas emoções e semânticas...
    deixá-lo em uma gaveta é um ato muito egoísta.

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