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sábado, 18 de setembro de 2010

Diário de Roberto Vilar (O Sal do Sabor) parte 2


O fato de não ter feito nada naquele dia nunca me incomodou como me incomoda hoje, me parece muito pior a lembrança de dois que pensei serem meus amigos (os cães) destroçando um animal indefeso, aquela cascata de ira motivada por gritos agudos pela ausência de testosterona foi deixando o chão da caatinga ainda mais vermelho. Ter me convencido de que reagi ajudou e levar a vida, assim como pensar que tais crueldades eram coisas normais de crianças, além do mais depois daqueles tempos nunca mais voltei a ver  os garotos.
A pior briga mesmo foi quando me flagraram olhando para a irmã mais velha, era uma safada a Liviane, ela tinha uns doze anos quando começou a me atiçar, seus cabelos alourados e encaracolados nada tinham de angelicais, fazia questão que eu soubesse quando ia tomar banho no açude, se demorava nua a cantar e dançar, vez em quando me olhava pelo canto dos seus grandes olhos negros, já sabia onde eu ficava escondido, admirando aqueles carocinhos róseos e arredondados em crescimento, duros e redondo como pequenas laranjas verdes, que ela alisava sem parar. Sua xana já tinham ralos fiozinhos e eu geralmente não conseguia vê-la durante os banhos a não ser quando ela me mostrava. Eu adorava observá-la, no início não sabia bem porquê nem o que fazer, esfregava-me sem parar, até que descobri a forma que mais agradava...

Acordei com o barulho de música na cozinha, eu estava molhado e com uma puta dor de estômago, não sei bom onde as lembranças se misturaram com os sonhos.
- Rita, corre aqui!
- Bom dia Sr. Roberto, passou bem a noite?
- O que parece? Adormeci nessa poltrona.
- Tsc tsc, já vi que esteve bêbado outra vez, desse jeito vai acabar morrendo.
- Não há perigo, pois já estou morto!
Respondi secamente me dirigindo ao banheiro, odiava quando ela chegava assim bem humorada, sua alegria era clara no desjejum que me servia, suco de melância com laranja e pão integral com uma pasta sem gosto de queijo branco e cenoura.
- Disse que morri, eu sei, mas não preciso comer essa comida de defunto!
Nada sólido me descia pela guela, mas bebi o suco, me sentia muito amargurado para aquele troço doce, então vomitei tudo no chão. Cheguei até a sala e a flagrei dançando em silêncio, por alguns segundos os movimentos de seus quadris indo e vindo me fizeram esquecer das dores e da falta delas, mas quando ela me viu foi como um tiro de consciência e continuei minha rota até a cozinha para beber um copo d’água.

4 comentários:

  1. escrita visceral e literal, do jeito que mais sei apreciar.

    Isso tá ótimo!

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  2. Precisamos conversar...ainda não entendi muito bem que tipo de literatura você pleiteia produzir. Sua escrita oscila entre o sertanejo e o urbano. Ora utiliza algumas variantes regionais, ora não. Também, não sei se são só reminiscências de um sertanejo urbanizado, instruído ou de um urbano que escreve sobre fatos passados que tiveram como cenário o sertão...
    Bom, se você pretende fazer um romance sertanejo deveria usar mais de vocabulários e sintaxes próprias desse local, mas se for um romance sem essa pretensão identitária, a escolha das palavras foi feliz.

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  3. Eu sou um pouco assim
    Rural e Urbano
    A situação é de uma vida que sai do sertão e vai se urbanizando aos poucos...
    coloco a linguagem quando relato o período, eu mesmo fiquei me questionando como escolher as palavras, preciso de um editor pra me ajudar
    rs rs rs
    quero usar linguajar infantil quando criança, sertanejo quando no sertão, e meu ao mesmo tempo
    tá muito confuso?

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