Depreciativo NÃO é depressivo!

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Vem beber comigo


quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Entre os bares


      Eles já se olhavam há algum tempo, mas sua insegurança atrapalhava a aproximação, ela era uma garota atraente, mas não tão bonita, a calça e a blusa folgada pareciam disfarçar um corpo acima do peso, seu nariz parecia não pertencer a seu rosto que tinha um belo formato, tinha também um lindo cabelo, pena que a tintura tirava um pouco da naturalidade.
    Esperou a banda terminar, e aproveitou o som mais baixo para ir conversar com ela, a maioria dos homens do local faziam justamente o contrário, esperavam o som alto pra justificar a falta de assunto, mas ele tinha visto uma propaganda na televisão e se sentia inspirado.
- Boa Noite!  
Disse ele sentando-se ao seu lado no balcão, pensou em oferecer uma bebida mas seria muito americano, perguntar se ela visitava aquele bar com frequência ficou repetitivo depois das novelas e se sentiu desprevenido, vazio, sem nada de criativo para quebrar o gelo inicial.
- Boa, pensei que não ia parar de me olhar, só olhar.
Ouvindo sua resposta sentiu um leve alívio, percebeu que se tratava de uma mulher decidida e autêntica, começou a ficar mais à vontade, parecia que ela quebrara o gelo por ele. Sorrindo ele respondeu:
- Sou um pouco tímido mesmo, eu queria tanto que você me olhasse que podia até estar fantasiando isso, enquanto você olhava pra outro lugar, para outra pessoa ou simplesmente para o nada atrás de mim.
Ele estava satisfeito com seu desempenho, pensava ter demonstrado o quanto a desejava revelando também seu lado humilde e frágil, todavia a leitura dela não foi bem essa, o rapaz pareceu-lhe um pouco estranho, ou estava sendo muito irônico ou era um ingênuo idiota, a visão era difícil naquela escuridão, não tinha nada nem ninguém atrás ou perto dele, como um homem bonito com aquele poderia ser tímido vivendo na cidade de Salvador, sua altura chamava atenção, seus braços, a pele bronzeada, os olhos apertados e o seu jeito de beber a long neck demonstrando tanto poder, será que ele quis dizer que sou zarolha? Ou tenho problemas de vista? Pensando nisso ela pensou ter perdido algumas palavras dele:
- Como? O que você disse?
- Falei que sou tímido, e que pensei que talvez não olhasse diretamente para mim.
Foi um pouco frustante para ele ter que repetir, perdera totalmente o clima que ele pretendia inicialmente e o fazia se sentir um pouco chato talvez.
- Não, isso eu ouvi. – respondeu ela – fiquei até um pouco envergonhada, me sentindo muito atirada.
- Que besteira, gosto de mulheres decididas, o que você faz?
Aquela pergunta simplesmente saiu sem pensar, pareceu-lhe a coisa mais normal do mundo e ele não queria fazer nada de normal ou comum, a propaganda da TV martelava em sua mente, e se ela lhe perguntasse o mesmo?
- Gostei do decidida, faço várias coisas, principalmente decido o que vou fazer.
Agora ela tinha mostrado sua superioridade feminina, mesmo diante de um homem tão bonito já começava a se sentir muito interessante para ele, ele parecia pensar o mesmo por prolongar um riso amarelo tentando achar palavras à altura dela. Então ela continuou:
- E você, faz o que? Deixa sempre que decidam por você?
O Sarcasmo dela lhe conferiu mais pontos a frente e sem ter nem saber o que fazer ele decidiu brincar com sua própria situação, o que provavelmente passaria por ironia e ficaria bem.
- É, geralmente deixo decidirem por mim, minha mãe decidiu o que eu fazia nos primeiros anos, depois era influenciado pelos amigos e inimigos da escola, mais na frente pelas garotas por quem fui apaixonado, até que meu pai decidiu o que eu devia estudar e onde eu deveria trabalhar e agora você vai decidir se minha noite será agradável ou não.
    Pronto! A sinceridade de um ser socialmente submisso, ele conseguira mais uma vez ser divertido, interessante e principalmente mantendo o foco em seu interesse por ela.
    Desta vez ela ficou sem palavras prolongando um riso nos lábios, riso mais sutil e charmoso que o dele, é verdade, mas ainda assim um riso de conveniências, ela parecia decidida, olhava-o mais uma vez por inteiro e sabia fazer isso sem que ele percebesse, fixava um pouco mais de tempo em seus olhos e sua boca, esperando o próximo passo, para evitá-lo inicialmente e desfazer a idéia de atirada que imaginou ter passado.
    - Realmente, ás vezes a gente acha que decide mais do que realmente decide não é, mas me diga com sinceridade, você nunca se rebelou?
  Aquilo parecia realmente importante para ela, enquanto ele se questionava se já tinha ganhado a garota ou não decidiu tentar continuar sendo engraçado para fugir das respostas.
   - Claro que já, várias vezes, afinal de contas por que você acha que eu nunca fiquei bêbado!
  - Hahahahaha, tem razão minha pergunta foi um pouco idiota, mas me conte o que seu pai quis que você estudasse?
 - Direito.
 - E você o fez?
 - Sim, me formei tem 2 anos.
- E está trabalhando com ele?
- Não, estou sendo rebelde novamente sem passar nos concursos que querem que eu faça.
Falou isso abaixando o tom de voz, ela acabou sendo insistentemente chata e nenhum dos dois mais sabiam se queriam prolongar a conversa parcialmente estragada, ele sentia-se envergonhado de passar tanto tempo investindo em algo que por várias vezes duvidava ser ele e ela sentiu o quanto incomodou com sua curiosidade desenfreada.
   Ela era uma garota independente, trabalhava com arte, morou fora do país dois anos e vinha conseguindo criar seu filho sozinha com seu trabalho há três. Sabia que deveria ter segurado sua curiosidade mas se sentia muito interessante para prestigiar quem não tivesse nem um pouco em comum, principalmente se tratando das suas ambições e de suas prioridades na vida.
  Já ele se sentia mais uma vez reduzido, não por ela, mas por si mesmo, queria ter uma vida diferente, sempre se sentiu um pouco covarde e acomodado por seguir os caminhos comumente seguidos pelas pessoas mais próximas a ele, ele queria mais, mas talvez não quisesse tanto a ponto de lutar por isso, ele não saiu do óbvio, sentia que tinha preguiça e medo de buscar, de ler mais, de desistir do que investiu um mínimo que seja e principalmente de investir em algo desconhecido, era a única forma que sabia avaliar sua vida quando falava daquilo e queria alguém com as mesmas ambições e outras prioridades.
Ele deu um gole no uísque e sentiu um salgado das lágrimas que não sairiam e então se abriu de forma um tanto infantil:
- Na verdade eu queria ser poeta, escritor.
- É mesmo ! Então por que não tenta ser poeta enquanto vai aprendendo as leis?
-  Não sei, talvez não queira tanto.
- Você sabe de algo que realmente quer? Que quer muito ?
- Sei, você!
O silêncio do bar esvaziando percorreu os dois, ela achou aquilo até bonito e ele se sentiu ridículo e previsível, mostrando um certo desespero.
 - Faz assim então, me faz ou recita um bom poema que saio daqui com você hoje.
- Aí é que está o problema, meus poemas não são bons, e eu não os guardo, nem na memória nem em lugar algum, não gosto deles.
- Cria um pra mim.
- Já bebi demais, acho que vou acabar sozinho.
- Acho que você não me quer o bastante, sinto muito.

- Se eu Furto o Seu fruto,
Usufruto até farto, até fraco
Franco fuço o fato, franco faleço
Em forca ou fome, me faço facção
Me forço felação
e sem fama faleço,
Faleço Feliz, me faço aprendiz

Mas faz o seguinte
Fica, Faz-me fútil usufruto
Fazendo do amor fração
Feitos a fria faca
Infalível e fatal
Com a qual furto seu fruto
Fincando meu pau

- o que me diz?
- Hum… “meu côco com C é competente, cachimbo, café, cachaça, cadarço, cordão, corrente” rsrs.
- Tá vendo, eu avisei, mas pelo menos você é bem humorada
- Ah, não Fode, não chamo isso de bom humor, eu até que gostei.
- O amor não brota do amor, como a flor não brota da flor, o amor brota do chão, das cinzas e do esterco ao redor, o amor e a flor.
- Olha, desculpe a grosseria, não sou do tipo de se encanta com essas trocadilhos e metáforas piegas, mas espere aí que vou ao banheiro e volto.
 No caminho ela viu que o bar já estava quase todo vazio, restaram praticamente casais, sua amiga parecia entrelaçada com um sujeito barbudo e mal vestido, fazendo a linha despojado e então ela a cutucou para acompanhá-la ao banheiro.
- E aí, qual é a do bonitão?
- Ah, sei lá, ele é meio chato, carênte e metido a intelectual, me recitou um poeminha ridículo!
- Recitou poema! Não acredito, caia fora amiga, que coisa brega.
- Pois é, mas quer saber, quem não tem champignon põe milho no strogonoff.
- Strogonoff é sempre bom, de frango ou de carne?
- Acho que é de frango, fazer o que...
- Então vai lá encher a barriga que eu vou embora com o Vitor. Beijos

Voltando para o balcão o rapaz ainda estava lá, e ela nem sabia seu nome, mas já estava decidido, não ficaria mais uma noite sozinha.
- Olá, não disse que voltava, pois é, estou aqui.
- Não esperava que voltasse.
- Mas voltei, me diga qual o seu nome que eu ainda não sei.
- Meu nome é Vicente.
    Esse foi o tiro do destino, ela ficou paralisada, seu nome soou muito pior que o poema, ele viu sua feição mudar e ela chegou a lembranças há muito esquecidas, Vicente não era um nome tão comum e isso não acontecia muitas vezes, desta forma gaguejando ela desconversou.
 - Você é um cara muito legal, um cara  cool, acho que deveria investir em seus poemas, mas acho também que você é muito cool pra mim, eu até que queria ser assim, mas tenho medo.
- Medo? Mas por que medo?
- Porque no cool dói, agora deixe-me ir que já está tarde.

E assim ele foi para casa, sem nem vontade de se masturbar questionando se acordaria cedo para estudar direito constitucional ou dormiria tarde escrevendo sobre a dor na qual não parava de pensar.

9 comentários:

  1. kkkkkkkkkkkkkk........

    agora... pq ela pinotou daquele jeito???? já conhecia o sujeito? era o pai da filha? só tinha o mesmo nome?

    mistéeeerio(voz grave e tremida)

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  2. cansei na metade... muito groove bar!

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  3. Li de uma vez e adorando, mas meu intelecto não captou o final, por favor, me ajude: Pq Vicente? Pq cool? Qual era a dor de Vicente?

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  4. Na verdade isso é mais um estudo, tenho dificuldade de escrever em terceira pessoa, deve ser o egocentrismo.
    Gosto de dar ferramenta para imaginação alheia também, então ele é metade meu metade de vocês.
    Não mais frequento o groove bar, mas tem gente que não se cansa das mesmas coisas.
    Detesto pessoas que fazem algo medíocre por não ter opção melhor, não queria que esse fosse o caso.
    Talvez eu ache que as pessoas tomem suas decisões baseadas muito mais em pequenos detalhes insignificantes do passado do que nas perspectivas apresentadas para um futuro, o que eu não sei se é bom ou ruim, parece feio, mas parece comigo.

    "Nota do Autor"

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  5. pronto.. para evitar a prepotência.

    para rodrigo: "Na verdade isso é mais um estudo, tenho dificuldade de escrever em terceira pessoa, deve ser o egocentrismo."

    para todos: "Gosto de dar ferramenta para imaginação alheia também, então ele é metade meu metade de vocês."

    para gabriela:Não mais frequento o groove bar, mas tem gente que não se cansa das mesmas coisas

    para priscilla (falando do texto):Detesto pessoas que fazem algo medíocre por não ter opção melhor, não queria que esse fosse o caso.
    Talvez eu ache que as pessoas tomem suas decisões baseadas muito mais em pequenos detalhes insignificantes do passado do que nas perspectivas apresentadas para um futuro, o que eu não sei se é bom ou ruim, parece feio, mas parece comigo

    estou tão bonzinho... mas perdendo a paciêcnia de explicar

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  6. tem coisas que não precisam ser ditas ou explicadas... mas é uma pena VOCÊ não ter entendido... é quase que impossivel na verdade, tá mais pra você fingir que não entendeu... que pena, pena pena pena

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  7. ahhh... tenho mais 3 coisas pra te dizer: não te fiz perguntas pra precisar de respostas, sarcasmo não se responde e criticas não precisam de avaliações ou retorno. Elas por si só são exatamente isso!

    faltou mais uma, então são 4 coisas... repense no fato de você ficar dando explicações das coisas que você escreve, sobre o que você quis dizer... isso tá mais pra livro de auto ajuda. Cada cabeça vai entender as suas palavras de formas completamente distintas, e o barato é esse exatamente... isso não é prova de literatura da UFBA. Enfim, é apenas minha opinião, meu ponto de vista, minha cabeça... que não deixa de ser um critica... não que você queira ou precise. Mas se existe a opção de comentar acho que você não tem outra escolha mesmo!

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