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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Câncer de Pele

    Enfim parece que consegui chegar a Salvador, venho por cima de um viaduto avistando uma pista suspensa, parece algum tipo de metrô. O sol parece que já está fraco,  não sei exatamente o que estou sentindo além da necessidade de um trago. Um sentimento estranho, parece faltar alguma coisa, necessidade que com certeza será sanada com um trago, mas não é só isso e por enquanto  toma meus pensamentos, acho que não é o cansaço também, apesar da caminhada acho que nem estou sentindo meus pés, portanto com certeza não são eles. Chego a pensar na possibilidade de ser algo mais filosófico, relacionado com os meus objetivos de vida, do motivo de ter voltado a esta cidade. Parece que acabo de perder o tesão em fazer o que vim fazer, o que é preciso ser feito, mas talvez seja simplesmente covardia justificada com essa psicologia amadora que invento para mim. Queria dizer que estou sentindo um tipo de saudade estranha, algo bonito e poético, pensei na neve, queria ver neve, estou com saudade da neve, mesmo nunca tendo visto pessoalmente, como um sentimento de perda de algo que nunca se possuiu. 
    Que grande merda é essa? Neve! Neve em Salvador!? Saudade do que não vivi!? A porra do sol deve estar afetando meu juízo, a neve limparia meus pés e eu perderia a oportunidade de fazer drama com essas marcas, calos e sujeira para ganhar algum trocado, além do mais mendigos morrem muito mais facilmente no frio que no calor. Já passei na frente dos bombeiros, de algumas lojas de carro e de mais um grande templo arrecadador de sonhos, trabalho e principalmente dinheiro das pessoas pobres. Cheguei em uma avenida com um belo gramado ao meio, o trânsito está bom para pedir nas sinaleiras, mas os pedintes aqui se valem de uma espécie de rodo para usar nos vidros ou de diferenças que os façam parecer incapazes, qualquer coisa me ajudaria, filhos, pinos, elefantíase ou uma arma, sem nada disso tenho grandes desvantagens, não tenho chances, vou apelar para a sinceridade, alguém pode se sensibilizar com a minha abstinência alcoólica e me ajudar com algum trocado.
    Não deu certo, povinho moralista e sovina de merda, cidadezinha de filhos da puta, sol desgraçado que parecia dormir e me torra, tremedeira maldita que não para, fome que me lembra coisas indesejadas e sacizeiros que me olham o tempo todo, ô cidadezinha de filhos da puta.
    Consegui sentar numa sombra e minha sorte começou a mudar, no meio da moita achei meu presente,  meus presentes para ser mais exato: uma carteira de cigarro, alguns doces de banana ou caju e uma magnífica garrafa de 51, tudo em um prato de barro. Ô cidade abençoada! Que a fé dos homens alimente mais almas perdidas e desesperadas.
    Depois da ceia as coisas continuaram a melhorar, o sol já parecia mais tímido e encontrei mais um sinal da generosidade e preocupação soteropolitana, um aparelho indicando qual o fator de protetor solar deve ser usado para cada tipo de pele!
    Fiquei um pouco em dúvida, comparei os tons de pele demonstrados mas acho que preciso dar um desconto para a sujeira e o sol que tomei hoje, se não me engano sou um pouco mais claro. Descobri que para um sol das cinco da tarde em Salvador eu deveria usar protetor fator 15, vai ser meio difícil conseguir comprar agora com o que tenho, mas se eu contar com a sujeira um fator 8 me basta. Dizem que sujeira dentro da ostra vira pérola, talvez ela também possa proteger do câncer, quão mais preto sou menos risco corro. Posso até estar sendo um tanto paranóico, mas tente passar pelo que estou passando, tá difícil ser eu sem  reclamar de tudo, melhor torcer para uma nuvem negra cobrir esse sol, ou quem sabe desistir da idéia aveadada de ser pérola e tentar parecer um Assum de cativeiro, arranjar uns óculos escuros no lugar do protetor e quem sabe igualar minhas chances de ser um pedinte bem sucedido.
 Amanhã precisarei conseguir o suficiente para alguma comida, cigarros, bebida, talvez ache os óculos e crie uma bengala, talvez consiga dinheiro pro bloqueador e para um sabão liquido e um rodo, por enquanto está tudo em ordem, da garrafa e dos cigarros restam metade e é melhor voltar para o bambuzal e esperar novas oferendas.
    Salve a cidade de São Salvador, ô terrinha de gentis filhos da puta.

2 comentários:

  1. começou de um jeito, terminou de outro... um você, outro não, temas opostos.. mas a minha conclusão é sempre a mesma.... é, eu ainda consigo entender o que continua querendo dizer, ou até as novidades... mesmo que as vezes você mesmo nem queira. rsrsrs

    vai ver o problema é esse... conhecer demais!

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  2. porra... o mendigo entende o aparelho melhor que eu... acho que o mendigo tinha nível superior... sabe até que o clima tropical de salvador não permite a neve!

    kkkkkk

    sim... gentis filhos da puta... to incluso no meio.

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